Ninguém melhor do que você mesmo para contar a sua própria história

Larissa Vitoriano
5 min readJan 26, 2021

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O documentário Viagem à terra dos meus avós começou antes mesmo de cogitar colocar os pés em Portugal

Família de imigrantes e duas culturas: mãe portuguesa e pai brasileiro. 50% bacalhau com batatas, 50% arroz, feijão e farofa. E, como uma contadora de histórias que sou, sempre quis compartilhar com o mundo as minhas origens.

Ao imigrar para a aldeia da minha mãe em Portugal a vontade floresceu de uma forma inexplicável. Os enquadramentos tornaram-se rotineiros na minha câmera fotográfica interna.

No segundo semestre do mestrado foi proposto para uma cadeira produzir um documentário. O tema era livre. Não pensei duas vezes: desengavetei três textos publicados aqui no Medium sobre as minhas primeiras impressões de Laúndos e comecei a escrever o guião.

A primeira versão da sinopse foi a seguinte:

Laúndos têm 2.057 indivíduos registrados. A pequena aldeia do norte de Portugal reserva histórias de personagens instigantes, em cada uma das gerações que ali residem. Ao caminhar alguns minutos pelas típicas ruas de pedra, avista-se cenários de encher os olhos. Os lavradores, os imigrantes, as costureiras, as crianças. Entretanto, do que é feito o cotidiano desses personagens e quais sonhos reservam suas mentes?

Dados

Levantei dados sobre a região e resgatei fotografias amadoras, em ângulos que talvez fosse explorar durante as filmagens do filme. Tudo ainda era muito embrionário, mas sabia que ali eram os primeiros passos da narrativa fílmica.

De acordo com informações de 2011 da Junta de Freguesia de Laúndos, a aldeia conta com uma população residente de 2.057 indivíduos. São 567 famílias que residem no local, com 786 alojamentos na localização geográfica. Homens representam 978 indivíduos e mulheres 1.079. A freguesia possui como área total 8,57 km e uma população agrícola de 236 indivíduos, ou seja, uma atividade que até hoje é muito forte na subsistência da população local.

Imagens do Escadório, do Moinhos e do Monte S. Félix, principais cartões postais da aldeia de Laúndos.
Imagens da Igreja S. Félix, Estrada de Rates e os Pinheiros.

Personagens

A seleção dos personagens foi a parte mais fácil de toda pré-produção. Já tinha em mente os integrantes da minha família que iriam compor o filme. As três irmãs vivas da minha avó: Rosalina, Carminda e Elvira. Também Armando, marido da Carminda. As bolsas de pinheiros e os animais também tornaram-se personagens importantes na composição de toda a narrativa.

Os quatro personagens principais do filme Viagem à terra dos meus avós: Armando, Rosalina, Elvira e Carminda.

Rosalina Caetano e Elvira Caetano: irmãs que trabalham nos Farrapos

Duas irmãs reformadas que ocupam o seu tempo com atividades diversas, entre elas, além dos cuidados com o lar, os netos, a de desenrolar farrapos de tecidos não utilizados na indústria têxtil. Irmãs afetuosas, ambas de olhos azuis e peles marcadas pelo sol por conta do trabalho na agricultura durante a vida. Cenário composto por muito pó, sacos de tecidos por todo lado, cadeiras antigas e pouca luz. Localizado no Pé do Monte, em Laúndos.

Armando Baptista e Carminda

Armando Baptista é casado com Carminda Baptista e possuem 4 filhos. Foi imigrante na Suíça e França durante quase todo o decorrer da sua vida e retornou a Portugal já reformado. Amando é um personagem social importante para a aldeia de Laúndos.

Natural de Rates, freguesia ao lado, apaixonou-se por Carminda Baptista ainda jovem. Mudou-se para Laúndos, e desde então, fincou raízes na aldeia e adquiriu mais terras para a moradia dos seus filhos. É integrante do Rancho Folclórico de São Pedro de Rates como cantor e compositor.

Bolsas de Pinheiros e flores

As bolsas dos pinheiros são cenários importantíssimos na composição geográfica da aldeia de Laúndos. Como zonas verdes impossibilitadas de construção, os sons que as árvores produzem ao aproximar um temporal e a fauna e flora que preservam na região são pontos de destaque na composição do filme.

Animais

Laúndos é uma aldeia rural. Sente-se o cheiro de fertilizantes em campos e pastos em cada um dos seus sítios. Os animais são essenciais no conjunto, como destaque na composição de personagens que residem no distrito. É difícil entrar numa casa típica da região e não avistar nenhum tipo desses animais: galinhas, cachorros, vacas, coelhos, patos, gatos etc.

Vegetação encontrada na aldeia de Laúndos e cenas dos animais.
Cenas dos animais captadas para a composição do filme.

Filmagens

As filmagens aconteceram durante três dias no mês de Março de 2020. Utilizei uma Canon T3I com um conjunto de objetivas 18–55 mm e 50mm f1.4. Também microfone shotgun Boya, 2 cartões SSD Sandisk 32GB, luz LED microbeamum, tripé e microfone lapela.

O primeiro dia de filmagens choveu muito, portanto, não foi muito proveitoso. Entretanto, captei cenas que valorizassem o cenário na composição cinza, molhada e depressiva.

Já os dois dias seguintes foram compostos pelas 4 entrevistas e, a seguir, um dia todo de filmagens na praia da Póvoa de Varzim, distrito onde é localizada a aldeia.

Identidade visual

Após as filmagens, iniciou-se a pós-produção. O filme foi editado durante 3 meses, com duração total de 12 minutos e 32 segundos. Utilizei um filme antigo de aniversário da minha bisavó para compor a narrativa, além de fotografias, músicas instrumentais e o hino de Laúndos narrado pelo Armando Baptista.

Com legendas em inglês, o filme contempla diversos públicos, além do eixo dos países lusófonos, como o Brasil e Portugal. Também foi elaborado um cartaz e logotipo. Além de um conta oficial no Instagram, com o @viagematerradosmeusavós.

Cartaz oficial de divulgação.

Filmar os cenários da aldeia e o seu cotidiano foi uma forma de resgate da minha própria história e quem sou.

Confira o trailer e o filme completo de Viagem à terra dos meus avós.

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Larissa Vitoriano

Developer Relations do tipo contadora de histórias, nerd, techlover e que ama as coisas simples da vida 💫#maismeninasnatecnologia larissavitoriano.com